Continuemos...
Como não era aconselhável a Leonor fazer uma grande viagem após a cirurgia e também porque ela tinha consulta no hospital logo na 2ª feira de manhã, ficámos em Lisboa na casa da minha irmã que está lá a estudar.
Estávamos tão cansados que demos uma papinha à Leonor, jantámos um prato de cereais e tentámos descansar...mas não conseguimos. A Leonor acordava de hora a hora e era muito difícil adormecê-la. O máximo que dormiu foram duas horas e meia, mas apenas às 7 da manhã. Ela tinha muita tosse, a qual começou ainda no hospital antes da cirurgia, e nessa noite piorou bastante. Depois também estranhava a cama e a casa, além de poder ter algumas dores, embora eu lhe tivesse colocado outro supositório. Ela chorava, só queria o meu colo e eu já não conseguia aguentar-me de pé (tinha passado a noite anterior praticamente em branco e o dia sempre com a Leonor ao colo). Foi uma noite muito difícil para todos, porque ninguém conseguia dormir com o choro da Leonor.
O dia seguinte, sábado, não foi melhor! Comia bem, até brincava um pouco, mas continuava rabugenta. Só me dizia
bó = vamos embora (no hospital tinha feito o mesmo) e notámos que ela estava saturada de estar sempre em casa, e numa que ela desconhecia. Mas estava um dia farrusco, por vezes chovia e não queríamos levá-la a passear porque estava com muita tosse e podia piorar; até pensámos que teríamos de ir com ela ao hospital. Mas ao fim da tarde o tempo melhorou, agasalhámo-la bem e saímos. Adorou ver os carros a passar na rua e delirou quando chegámos a um parque infantil onde estavam outros meninos. Parecia outra: era a nossa Leonor alegre e bem-disposta. Passeámos mais um pouco, fomos comprar o jantar e fomos para casa. Jantou muito bem e já não dizia que se queria ir embora. Entretanto adormeceu por volta das 9.30 da noite e eu aproveitei para ir estudar para a tal prova que teria de fazer na 2ª feira. Mas tinha tanto sono que não conseguia concentrar-me. À meia-noite fui deitar-me julgando que a Leonor iria dormir a noite toda, pois já havia 2.30h que estava a dormir. Mas acordou ainda antes de eu me deitar e pediu-me
thithi = leitinho. Eu sabia que se lhe desse leite ela despertaria e não voltaria a adormecer tão cedo...mas se ela me pediu era porque tinha fome e, claro, dei-lho.
Como previsto depois não queria dormir e começou a dizer
papapa. Não sabíamos o que ela queria: não era papa, não era papá; só no dia seguinte descobrimos que era parque; tinha gostado tanto de ir ao parque infantil que queria voltar lá. Eu não aguentava o sono e o cansaço e adormeci enquanto ela ficou a brincar com o pai e a madrinha. Costumo ter dificuldade em dormir com barulho ou até mesmo a luz acesa: nessa noite dormia profundamente enquanto a Leonor pulava literalmente por cima de mim e gritava ou chorava!... Por volta das 3.30 da manhã acordaram-me para ser eu a deitá-la na caminha porque não estavam a conseguir: ela acordava logo. Como já estou mais habituada, peguei nela, deitei-a e ela ficou a dormir...até às 9 h. da manhã. Finalmente dormimos várias horas seguidinhas...que bom!
Domingo acordou mais bem-disposta (e eu também!) e foi passear com o pai ao parque enquanto eu fiquei a estudar. Viu os carros, viu passarinhos, comeu um chupa. Voltou muito sorridente. Este já foi um dia normal, de muita brincadeira e boa-disposição. A tosse também já não era tão forte! À noite adormeceu por volta das 10.30 e eu fiquei a fazer serão a estudar até às 2.30. Acordou às 5.30 mas voltei a adormecê-la e uma hora depois acordámos para um dia bastaaaante stressante!...
2ª feira chegámos ao hospital ás 8.15h. A Leonor tinha consulta às 9h e queríamos ser os primeiros porque eu tinha de estar, sem falta, às 15h no Algarve. Se ela tivesse logo a consulta tínhamos bastante tempo...mas já sabemos que há sempre atrasos.
Ao falar com a administrativa fiquei a saber que o processo da Leonor ainda se encontrava no serviço onde ela esteve internada. Mas lá expliquei que tínhamos urgência e disseram-me que o iriam pedir, pois sem ele a médica não a poderia atender.
Às 9.20 chamaram a Leonor. Ficámos satisfeitos, ainda era cedo e assim teríamos tempo para a viagem. Enganámo-nos: a médica sabia que estávamos aflitos com o tempo e disse-nos para irmos pressionar as administrativas porque o processo ainda não tinha chegado. Após várias conversas e pedidos, ficámos a saber que tinham perdido o processo. Era só o que nos faltava...e o tempo a passar!
E o tempo a passar...e o tempo a passar. Fui falar com a médica e perguntei-lhe como ficava a situação se não encontrassem o processo. Observaria a Leonor ou teríamos de ir embora?; não iríamos ficar eternamente à espera do processo. Respondeu-me que tinha de ter o processo consigo e aconselhou-me a fazer uma reclamação por escrito, que aqueles casos estão sempre a acontecer...eu até fazia, era realmente essa a minha vontade, mas eu não tinha tempo, queria era sair dali logo. Nesse instante disseram-nos que já sabiam onde estava o processo, que estava no serviço e não no arquivo onde o estavam a procurar (dah, qualquer pessoa sabia isso, eu sabia isso, porque é que não me perguntaram, eu saberia responder e até o poderia ter ido buscar se fosse permitido). Mas nem imaginam o tempo que demoraram a trazê-lo: uma eternidade.
Ainda estava eu à espera do processo quando o meu marido, que tinha ido levar uns
croissants para o carro para comermos na viagem, chega ao pé de mim todo alterado a dizer que tínhamos dois pneus em baixo. Aí fiquei sem chão: como poderíamos chegar a horas sem o nosso carro? Ainda se fosse só um dava para trocar, mas logo dois? Pensámos que alguém os teria furado. Mas ele foi ver melhor e constatou que estavam apenas vazios.
Finalmente trouxeram o processo e disseram-nos que tinham demorado porque ele ainda não estava montado. Queria lá saber disso, naquele momento não desculpava ninguém; se a médica estava ali, a Leonor também, por que carga de água estavamos ali a perder tempo devido a "simples" burocracias?
Felizmente estava tudo bem com a Leonor, o mais importante, e a médica observou-a em 5 minutos. Disse-nos para colocarmos umas gotas e uma pomada durante uma semana, para continuarmos com as massagens e para voltarmos lá em Janeiro.
Partimos do hospital eram 11 horas. Já não dava tempo para passar por casa e deixar a Leonor. Teríamos de ir directos ao Algarve e a Leonor aguentar esta viagem e depois a de regresso a casa. Parámos duas vezes, uma para encher os pneus e outra para mudar a fralda, colocar gotas e comermos mais alguma coisa, e chegámos 15 minutos antes do início da prova.
Entrei na sala toda stressada, tinha sido uma manhã sempre a correr e não me sentia preparada psicologicamente para uma prova tão complexa como aquela. Mas acalmei quando vi o enunciado. Era uma prova só de resposta com cruzinhas e embora pudesse ter o seu grau de dificuldade, achei-a bastante acessível e, no geral, acho que me correu muito bem. Pelo menos isso!
Saí uma hora e meia depois e a Leonor tinha acabado de acordar. Como tinha vindo acordada na viagem, só tendo adormecido na última meia hora, dormiu duas horas no carro. O pai estava cheio de fome, mas não a queria acordar. Almoçámos uma sopinha já passava das 5 da tarde. Depois fizémos a viagem para casa, jantámos e dormimos a noite toda nas nossas respectivas e saudosas caminhas.
Ah, descobri também neste dia que o pré-molar (e não o canino como aqui já tinha dito) já tinha rompido. Ainda mais essa para chatear a Leonor nestes dias!...
Parabéns se conseguiram ler o texto todo. Fiquem a saber que ainda omiti muita coisa.
Peço desculpa por não ter dado notícias mais cedo; até tive oportunidade, mas já sabia que se fosse à net, perdia-me por lá e o meu tempo era tão pouco que o aproveitava para estudar.
Já estive a visitar-vos, a ler as novidades, e adorei os vossos auto-retratos. Quando tiver mais tempo, também quero um.
Uma última palavra: para as mães que felizmente nunca passaram por uma cirurgia aos filhos, quero só dizer que, apesar de toda esta descrição atabalhoada, correu tudo muito bem. Nós vamos fazendo tudo por etapas e só pensamos que estamos a fazer o bem para os nossos filhos. Claro que estava nervosa, aflita e super preocupada, mas se me dissessem, há dois anos atrás que eu iria passar por tudo isto (principalmente a cirurgia em Janeiro), eu julgava que não iria suportar. Mas por eles nós conseguimos tudo e descobrimos que temos muita força...e temos mesmo de ter.
Se eu nunca tivesse passado por uma situação destas, e lesse estes posts, também diria, como vocês, que não aguentaria. Eu espero que nunca tenham de passar por nada semelhante, mas caso isso aconteça, não pensem que são fracas e que o mundo lhes cai em cima. Nós passamos a ser pessoas diferentes quando nos tornamos mães, muito mais fortes...e é por isso que a maternidade é algo tão especial. E fiquemos por aqui que as lágrimas já espreitam...não que elas sejam proibidas, por vezes até nos fazem bem,...mas é preferível sorrir para a vida, é muito mais saudável!